KGB no Brasil: como Putin renovou programa soviético na América Latina com a ajuda do PT
Os espiões escolhidos, após receberem intenso treinamento, constroem uma identidade insuspeita, comum, e tradicionalmente são mandados para outros países

Quando o Prof. Olavo de Carvalho avisou há mais de 30 anos que o comunismo não acabou e que a KGB não foi extinta, intelectuais e personalidades da imprensa torciam o nariz ou zombavam de suas análises. Há poucos dias, o jornal Estadão viu-se obrigado a noticiar, sem muito alarde, claro, uma descoberta do serviço de inteligência americana envolvendo espiões russos com passaportes brasileiros. A notícia brasileira é uma tradução de uma reportagem da Reuters.
O circo midiático acerca das intermináveis investigações no STF sobre “gabinete do ódio” e senhorinhas cristãs rezando em praça pública precisa ser compreendido em seu todo. Os esquemas milionários envolvendo Odebrecht na era Lula levando à extradição o ex-presidente do Peru e as recentes atividades do regime petista em relação à Guerra da Ucrânia alertam para uma operação ainda muito desconhecida dos iletrados analistas políticos no Brasil: o comunismo está mais vivo do que nunca.
Essas operações russas, como a inserção de espiões disfarçados de cidadãos de outros países, são realizadas na maioria dos casos pelo GRU (Главное разведывательное управление), Departamento Central de Inteligência, órgão do Ministério da Defesa da Rússia. Entre a lista de acusações contra o órgão russo, estão:
a interferência nas eleições dos Estados Unidos em 2016;
uma tentativa de golpe em Montenegro no mesmo ano;
ataques cibernéticos contra a Agência Mundial Antidoping (Wada) e a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ);
tentativa de assassinato do agente duplo Serguei Skripal no Reino Unido em 2018.
O GRU, ao lado de outros dois órgãos de inteligência do país, o FSB (Serviço Federal de Segurança, antiga KGB) e o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeiro), recuperou a expertise que os russos possuíam em espionagem na época da União Soviética, responsável, por exemplo, por obter segredos sobre o programa de armamento nuclear dos EUA, e que muitos acreditavam estar perdida desde a década de 90. O filósofo e professor Olavo de Carvalho sempre alertou que essa expertise comunista jamais foi abandonada esquecida ou perdida.
“A ameaça da espionagem russa hoje talvez seja maior do que durante a Guerra Fria”, declarou o ex-assessor especial do governo Bill Clinton para assuntos da Rússia e membro do centro de estudos americano Rand Corporation, William Courtney. Quando Olavo estava vivo, disse a mesma coisa e quase ninguém o ouviu, sobretudo os “sábios” militares brasileiros sem cultura.
Apesar da capacidade de obter informações, analistas afirmam, no entanto, que a Rússia falha em analisar e avaliar as informações. Na Ucrânia, por exemplo, o programa de espionagem conseguiu obter informações e manipular a opinião pública de áreas ocupadas, segundo um relatório do centro de estudos britânico Royal United Services Institute (Rusi), mas falhou ao não antecipar a forma de uma resposta ocidental unificada.
O comunismo acabou? A reestruturação da espionagem russa
O atual programa de espionagem da Rússia só se tornou possível graças à liderança do ditador Vladimir Putin, que foi um ex-membro da KGB e diretor da FSB antes de assumir o cargo no Kremlin. Durante a modernização dos serviços militares russos, que ocorreu após a invasão da Geórgia em 2008, Putin ocupava o cargo de primeiro-ministro, mas ainda mantinha grande influência no governo do seu aliado, Dmitri Medvedev. Quando Putin retornou ao Kremlin em 2012, as agências de espionagem receberam autonomia e apoio para operar.
A espionagem russa caiu muito nos anos 90, até por uma questão financeira, porque faltava recursos, e porque o (Boris) Yeltsin não priorizava tanto a questão da inteligência e segurança. Após a recuperação econômica nos anos 2000 com apoio de China, Brasil, ou seja, dos países do BRICS, Putin agora tem verba para os serviços de inteligência e deu prioridade a isso debaixo do nariz do Ocidente que acreditou no slogan “o comunismo acabou”.
De acordo com um relatório de 2021 publicado pelo serviço de pesquisa do Congresso dos EUA, a estrutura atual do GRU permite que ele opere de forma totalmente autônoma e se reporte diretamente a Putin. O GRU concentra suas atividades em áreas pouco regulamentadas, como zonas de guerra e na internet, e atua de maneira mais agressiva. Por outro lado, o FSB está mais ligado à inteligência interna e dos países fronteiriços à Rússia, enquanto o SVR se concentra em informações mais diplomáticas.
No relatório do Congresso americano, analistas e pesquisadores observaram que a cultura organizacional e a competição entre as agências de espionagem russas podem influenciar sua disposição em conduzir operações agressivas e, muitas vezes, imprudentes. Isso pode ser uma forma de justificar sua atuação perante os altos escalões do Kremlin.